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Aluno com medo de falar em público? Confira o que pode ajudar
- 16/11/2020
- Category: Competências escolares Conteúdo Exclusivo
Você sabe qual medo é mais comum do que os problemas financeiros, doenças e até mesmo a morte? Se você pensou na glossofobia, acertou em cheio.
Não sabe o que isso significa? Provavelmente você já presenciou alguns casos no ambiente escolar.
A Glossofobia é o medo de falar em público e, segundo especialistas, 77% da população têm algum nível de ansiedade ao falar em público. Esse medo está diretamente atrelado a traumas vivenciados nos primeiros anos de aprendizado, muitas vezes no ambiente escolar.
As principais causas dessa fobia são a ansiedade, a insegurança e a tensão nervosa, originadas na falta de autoconfiança, como informa o mestre em Administração de Empresas Marco Aurélio Morsch.
Cabe aos professores trabalharem no ambiente escolar a expressão em público dos alunos, promovendo um ambiente propício ao desenvolvimento de uma das habilidades mais importantes no mercado de trabalho. Além da questão profissional, o desenvolvimento da habilidade de falar em público gera benefícios diretos em todas os campos da vida, desde uma melhor comunicação com amigos e parentes até relacionamentos amorosos que sejam sinceros e saudáveis.
Quem tem medo de falar em público?
Não são apenas os tímidos e introvertidos que sofrem com as “travadas” na hora de falar em público. Um estudo realizado pelo jornal britânico Sunday Times, em 2015, apontou que o medo de falar em público é o mais temido pelo ser humano, superando até mesmo os problemas financeiros, de doenças e o medo da morte.
A fobia de plateias não é uma exclusividade dos ingleses. Em pesquisa realizado pelo Centro de Pesquisas e Tratamento de Transtornos de Ansiedade – SP, mais de 32% dos 452 paulistas relataram ansiedade excessiva ao falar em público.
Entre as causas do medo de falar em público, a principal é oriunda de situações traumáticas do passado. Com cicatrizes por traumas anteriores, o medo de falar em público surge da associação do momento de exposição com sentimentos ruins e experiências negativas.
4 mitos que os alunos acreditam sobre falar em público
1 – A busca pela perfeição
O perfeccionismo em excesso é um gatilho importante para o desenvolvimento de fobias sociais e, na hora de falar em público, não é diferente. O medo de errar produz um nervosismo excessivo no momento de atuar em público. E quando esse padrão perfeccionista é construído, não importa o quão boa seja a apresentação, o aluno nunca estará satisfeito.
Ao falar em público, naquele momento o orador é o centro de todas as atenções, e é justamente o desejo de se destacar – ou não passar vexame – que constrói esse padrão perfeccionista impossível de ser atingido.
Aos educadores cabe o exercício frequente da oralidade e a crítica construtiva, ressaltando os pontos positivos das apresentações em público e orientando para que os pequenos erros sejam corrigidos. Com o tempo, os momentos de falar em público se tornarão naturais e, mesmo que aquele friozinho na barriga continue existindo, o processo em si será muito mais prazeroso e produtivo.
2 – O público é um inimigo
Como dissemos, um dos fatores que mais dificulta que os alunos desenvolvam uma boa comunicação em público é a insegurança. Essa insegurança é baseada na ideia de adversidade, por meio da qual o público pode ser encarado como inimigo do orador.
Felizmente, isso não é verdade. Uma das características que nos define como humanos é a empatia. Quando alguém que está falando em público e desenvolve uma boa comunicação, é natural o sentimento de admiração. Algo parecido ocorre quando o orador está tendo dificuldades em se expressar e a plateia torce para que as coisas deem certo.
Um bom orador não enxerga o público como inimigo, mas sim como um velho amigo que não era visto há muito tempo e está animado para ouvir as novidades.
3 – O ideal é não fazer pausas
Já percebeu que quando estamos ansiosos o tempo demora mais para passar? Essa mudança de perspectiva pode acontecer antes de um jogo de futebol importante, de uma festa ou até mesmo daquele encontro com a pessoa especial.
Quando estamos falando em público, nossa percepção de tempo também é alterada. Ou seja, uma pausa que durou poucos segundos é percebida pelo orador como um longo silêncio.
A Coach vocal Inês Moura relata que a resistência da pausa é uma das atitudes mais encontradas nos seus alunos. Segundo ela, a pausa é um elemento essencial no discurso, pois, além de permitir que o orador regule adequadamente a sua respiração, ainda anuncia que algo importante virá em sequência e dá tempo para a plateia associar as informações que foram transmitidas.
A substituição das pausas por sons como “É” e “Hum” denuncia a tensão na voz e é uma forma involuntária dos oradores – principalmente os mais inexperientes – para preencherem os vazios entre as frases.
Por isso, a pausa é tão importante, substituindo os sons que demonstram o nervosismo por um momento indispensável para o orador retomar o seu raciocínio e sua respiração, e para o público sintetizar tudo o que foi dito.
A Coach vocal indica que um bom tempo de pausa são 3 segundos.
A promoção de dinâmicas com a contagem do tempo de pausa, em aulas em que os alunos precisam falar em público, é uma ótima maneira de aprimorar a oratória.
4 – A habilidade de falar em público é um dom natural
Essa é uma das justificativas mais comuns sobre as dificuldades de comunicação. Alguns professores acreditam que existem pessoas com dons naturais e que são capazes de fazer determinadas coisas que outras não conseguem.
Porém, a verdade é bem diferente. Falar em público é uma habilidade como qualquer outra. Pense por exemplo, em um maratonista: por mais que exista um dom natural, é a prática que faz com que em poucos segundos ele seja capaz de atingir velocidades incríveis.
Para se atingir a capacidade de fazer uma boa oratória, a mesma lógica se aplica. Pessoas que falam bem em público desenvolvem essa habilidade ao longo dos anos, comunicando-se de modo formal – ou informal – com coletivos de pessoas.
E o melhor lugar para o desenvolvimento dessa habilidade é justamente a escola, um ambiente onde o aluno deve se sentir seguro para cometer erros e celebrar os seus acertos.
Dicas para falar em público
Falar em público é uma competência e, como qualquer outra, com o direcionamento certo e muita prática, essa competência pode ser aperfeiçoada.
Algumas técnicas simples fazem toda a diferença no desenvolvimento da dicção e gestual.
A fonoaudióloga Dra. Cristiane Romano indica alguns exercícios de dicção que são ótimos para melhorar a confiança dos alunos na hora de falar em público.
Gravação do discurso
A primeira dica é a gravação da leitura de algum texto. Ao escutar a sua própria voz, o orador entende aquilo que precisa ser melhorado durante o discurso, identificando possíveis falhas na dicção e/ou no ritmo da comunicação.
Esse exercício funciona como uma autoavaliação, a documentação do desempenho na oratória. Algo muito semelhante é aplicado em praticamente todos os esportes de alto nível.
Nos clubes de futebol, por exemplo, uma parte importante da preparação para campeonatos é o estudo do desempenho do time nos jogos anteriores. Direcionados pelo técnico, os jogadores acompanham os seus erros individuais e como eles acabaram influenciando os resultados.
Na preparação para falar em público, mesmo que não seja um grande evento único, mas sim um trabalho a longo prazo, essa análise de desempenho produz o mesmo efeito: a identificação de detalhes que podem ser ajustados para um resultado muito mais satisfatório.
Direcionamento da respiração
A respiração é o fenômeno físico que permite a produção de som a partir das cordas vocais. Alunos que tenham problemas respiratórios podem encontrar mais dificuldades para falar em público.
Além disso, a ansiedade afeta diretamente o nosso fluxo respiratório, fazendo com que o processo seja realizado de forma rasa, prejudicando diretamente o ritmo de fala e a clareza na comunicação.
Exercícios que estimulam o controle consciente da respiração são indispensáveis para qualquer bom orador.
No motor de pesquisa do Google, existe um ótimo exercício para diminuir a ansiedade e promover uma respiração correta. Clique aqui e confira.
Prática de exercícios vocais
A prática de exercícios de fonoarticulação ajuda na construção de uma boa dicção, em que o som das palavras, das sílabas e das letras na fala sejam muito mais claros e audíveis.
Alguns desses exercícios são bem simples e podem ser orientados dentro da sala de aula, propiciando mais segurança para os alunos no momento de falar em público e aperfeiçoando a capacidade de oratória.
1- Trava-Línguas
Os trava-línguas, como o próprio nome sugere, são palavras de difícil pronúncia que desafiam a dicção.
O treino de pronúncias com fonemas semelhantes, além de diminuir o medo de palavras difíceis em apresentações, como é comum em seminários, por exemplo, ainda é uma forma lúdica de estimular a comunicação coletiva.
O exercício: Clique aqui e confira exercícios sugeridos pelo MEC – Ministério da Educação – sobre o tema. Outra forma de realizar a pronúncia dos trava-línguas é com um lápis ou uma caneta entre os lábios, a pressão da objeto fortalece a estrutura muscular.
2- A técnica de relaxamento de voz
Um dos sinais de nervosismo e tensão é a inconsistência na voz. Quando um orador não está seguro da informação que está sendo dita, percebe-se que a sua voz apresenta oscilações, tornando-se mais aguda ou grave conforme o desenrolar das frases.
O músculo vocal, assim como qualquer outro do nosso corpo, pode ser relaxado com um exercício adequado.
O exercício: Apoie o seu dedo polegar e indicador sobre o nariz com uma força moderada. Emita o zumbido de uma abelha “humm” com a boca fechada por cerca de um minuto, intercalando com 30 segundos de intervalo, por 3 vezes.
3 – Reprodução de consoantes com clareza
A ressonância correta das consoantes é fundamental para que a mensagem seja passada com clareza.
O exercício: Inspire e expire várias vezes lentamente pronunciando as constantes: P B T D G Q. Essas são as consoantes que mais gastam ar na pronúncia, a sua prática ajuda no domínio da respiração.
Esses exercícios podem ser repassados para os alunos e inclusive utilizados pelo corpo docente para incrementar as aulas e palestras. São práticas saudáveis para uma comunicação mais clara, efetiva e persuasiva.
Como proceder em casos de timidez?
A timidez também pode ser um problema clínico. Antes de tudo, é fundamental diferenciar a timidez situacional da timidez crônica.
A timidez situacional é comum, e todos nós temos que lidar com ela. A primeira vez que um professor entra para lecionar é um bom exemplo de situação onde a timidez é totalmente comum. Novas experiências são um gatilho para a timidez situacional.
Já a timidez crônica é bem diferente da situacional, não sendo necessária nenhuma situação como gatilho para sentimentos de medo, ansiedade e insegurança.
O tímido crônico tem dificuldades em desenvolver novos relacionamentos, independente da situação, possuindo uma autoimagem negativa e medo dos julgamentos alheios.
As características de um tímido crônico podem ser notadas independente da situação, como a ausência de contato visual, gagueira ao falar e pouca expressão gesticular.
A timidez crônica é um problema psicológico e deve ser tratado por um profissional da área. O desenvolvimento desse problema não apenas prejudica o aluno nos momentos de se comunicar com grupos de pessoas, mas também em todas as suas relações pessoais e consequentemente no aprendizado.
Cabe ao educador comunicar os responsáveis pelo aluno sobre a possível existência do problema.