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O mundo digital não substitui o contato humano
- 19/01/2015
- Category: Notícias
Por Ivani Cardoso
Ele não acredita no fim do livro impresso e acha que a conexão maior continua sendo com as pessoas e não com a Internet e garante que respeitar a inteligência e a sensibilidade das crianças é fundamental para os autores de livros infantis. Ilan Brenman é mestre e doutor pela faculdade de Educação da USP, um dos principais escritores de literatura infantil do Brasil (tem 67 obras publicadas) e colunista da revista Crescer com foco nos temas Educação, Cultura, Tecnologia entre outros. Em 2011 recebeu, pelo livro O alvo (Ed. Ática), o prêmio pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) de Melhor Livro para Criança. Para ele, educar é possibilitar autonomia para o educando. Mesmo dizendo que celulares e tablets devem ser utilizados nas escolas, ele faz restrições às redes sociais e sua influência. Recentemente, em sua coluna, publicou que é preciso colocar na balança os benefícios e malefícios dessas novas tecnologias. Ele divulgou também pesquisa realizada pelo cientista, médico e sociólogo Nicholas Christakis, da Universidade de Yale (EUA), que afirma que “os laços sociais influenciam mais do que a Internet… A conexão profunda é com outra pessoa. As redes online são boas para disseminar informação, mas se um amigo seu decide ir para a rua, é mais possível que você queira segui-lo. A mídia online não é tão eficiente em mudar comportamentos”. Para ele, o problema é como sair do cardume e navegar nas profundezas oceânicas para encontrar um grande amigo. “Dentro dos cardumes nos sentimos mais seguros, ao mesmo tempo ficamos mais vulneráveis às redes e suas iscas hipnóticas – talvez tenham que aprender e ensinar também aos nossos filhos que nem tudo o que reluz é ouro. Quando damos escolhas a eles, ou seja, entre ficar nas redes sociais ou encontrar pessoas e lugares reais, quase sempre eles escolherão o calor da pele humana ao calor da bateria de lítio de um dispositivo eletrônico qualquer”. Tomara que ele esteja certo.
Como você descobriu sua vocação?
Quando tinha 18 anos e trabalhava com crianças pequenas e uma delas me pediu para contar uma história, respondi que não sabia e ela me disse: “então inventa.” Comecei a inventar e não parei até hoje.
Com que idade lembra de ter começado a ler? Quais os autores preferidos na infância?
Comecei a ler com seis, sete anos. Autores: Mirna Pinsky, Mary e Eliardo França, Ruth Rocha, Ana Maria Machado.
Escrever para crianças é um desafio. Qual o segredo?
É respeitar a inteligência e a sensibilidade das crianças.
De onde vem sua inspiração? Quais os principais temas?
Tenho três caminhos para a criação. O primeiro é o que chamo de Reconto, pesquisa de contos populares e adaptação das histórias. Ex.: As 14 pérolas da mitologia grega (Ed. Brinque.Book). Em segundo lugar é a criação pura, a ideia surge na cabeça e depois vem o suor para desenvolvê-la até virar um livro. Em terceiro lugar são as histórias do cotidiano – a inspiração vem de fatos do meu cotidiano familiar. Ex: Até as princesas soltam pum (Ed Brinque.Book).
Atualmente as crianças e os jovens dominam o mundo digital muito mais do que os adultos. Como os professores devem lidar com esses nativos digitais?
Nada substitui o contato humano, o mundo digital trabalha com informação, a relação humana (professor – aluno) trabalha com o que fazer com tanta informação, ou seja, com a sabedoria.
A relação de alunos e professores, pais e filhos, filhos e avós é muito tumultuada nos dias de hoje e o respeito pelos mais velhos é levado em conta. O que você acha que poderia ser feito para mudar essa situação?
Precisamos praticar o respeito, só assim as crianças vão introjetar o respeito pelo outro.
Os professores devem alertar seus alunos sobre a superexposição do mundo virtual ou isso é uma tarefa apenas para os pais?
É uma tarefa da sociedade. A infância é o patrimônio mais rico de um país, precisa ser cuidada.
Como deve ser uma biblioteca escolar? Os alunos devem participar das escolhas?
Uma boa biblioteca deve ter diversidade de livros (temas, formatos, gêneros) e, sim, eles devem participar em alguns momentos das escolhas.
Vivemos em um mundo com muitas opções de escolhas profissionais. Está mais difícil encontrar a verdadeira vocação?
Como disse um filósofo outro dia, a vida está mais rica em coisas, porém mais pobre em experiências. A verdadeira vocação só pode ser descoberta se a procurarmos nos lugares certos. Quanto mais buscarmos (experiências), mais chance de encontrá-la.