UMA TEORIA: BIG FIVE
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Síndrome de Asperger
- 17/03/2015
- Category: Notícias
Amigos, estou compartilhando a informação sobre Asperger para que entendam um pouco sobre a vida de alguém acometido pela Síndrome. Vou me expressar amparado no que observo no meu filho: toma remédios controlados desde que nasceu, tem muita ansiedade e inocência, tem pensamentos repetitivos – muitas vezes obsessivos e dificuldade de noção espacial (nem sempre sabe que direção tomar quando sai de casa).
Uma inquietação incrível para as manifestações artísticas: embora não tenha domínio das técnicas (transparece certa ingenuidade), quer fazer e experimentar diferentes possibilidades artísticas: compor músicas, criar gêneros musicais através de fusões dos já existentes, pesquisar vários idiomas (alemão, italiano, além dos tradicionais inglês e espanhol). É, também, quadrinista, desenhista, escultor, pesquisador das culturas japonesa, latina, popular, filosofia e de 78 gêneros musicais – e muitas outras coisas.
Coleciona cartas de jogos, lacres das latas de refrigerante, cartões telefônicos, tampas de garrafas, revistas, gibis, tudo em grande quantidade. Prefere comprar livros de pessoas que você não sabe que existem (e olha que eu leio muito), falando de assuntos que não chamariam a sua atenção (Legislação do Senado, por exemplo).
Somente vai sozinho a lugares já conhecidos e geralmente precisa ser acompanhado ou pelo menos deixado em eventos e depois alguém vai buscá-lo (muitas vezes esse cara sou eu): vai de ônibus a alguns lugares mais previsíveis e seguros. É tímido, tem dificuldade de comunicação com estranhos.
Nesses eventos tem concurso Cosplay (os concorrentes vão fantasiados de personagens predominantemente de desenhos animados da cultura japonesa: ele participa de todos, alternando os personagens Daniel Boone, Harry Porter, Cowboy Italiano). Tem, também, Animekê (um tipo de karaokê oriental), estandes de vendas de camisetas com estampas de Personagens e Bandas afins, palcos de músicas pop e rock, dentre outras atrações, jogos de cartas tipo RPG (e um Bazar de troca e venda dessas cartas). Um público fiel desses eventos são os profissionais de T.I. (é comum eu encontrar quase uma dezena de alunos a cada evento).Adora participar dos “Animes” (não perde um e jeito nenhum: já o levei em Guarapari, Coqueiral de Itaparica, e nos mais variados bairros de Vitória) e eles acontecem quase que uma vez por mês: eu o levo às dez da manhã e ele fica lá até às dezenove horas.
Quando quer ir a algum lugar, não me pede diretamente (à exceção da ida aos Animes). Faz-me indagações do tipo: “Pai … sabe que ônibus eu pego para ir a tal lugar?” (e é no fim do mundo, em que teria que pegar 2 ou 3 ônibus); “Pai … você vai passar perto de tal lugar?”. E geralmente eu o levo de carro aonde quer ir. Para ele, quando discorda da mãe, em qualquer situação, eu sou o Juiz: minha decisão fica valendo, sem reclamar.
Não se limita a escrever estórias: ele cria uma personagem que fala castelhano uruguaio com outra que fala português castiço, só para dar um exemplo. Já escreveu centenas de histórias (e até há pouco tempo, registrava todas, para preservar os direitos autorais, pois tem uma preocupação de ser plagiado). Seus personagens têm nomes singulares e seu traço é inimitável e único: o dia em que eu tiver coragem vou providenciar a criação de produtos (canecas, camisetas) com a obra dele.
Leva muito a sério tudo o que eu falo (que vira Lei para ele): tenho consciência da minha imensa responsabilidade nesse aspecto e procuro ter a competência possível que minha maturidade permite. Pede as coisas para mim, mas não força a barra: tem um alto grau de aceitação quando ouve “Não”. Após minha resposta às suas perguntas frequentes, geralmente diz: “Certo, pai. Obrigado”.
Nem sempre pensa nas consequências das coisas que quer fazer ou faz. Quando eu lhe pergunto: “Pensou nesta consequência?” – alertando-o dos riscos -, invariavelmente diz: “Pior que não”. Quando lhe perguntam, você está bem, responde: ” Um pouco”.
Exige muito de mim, em termos de paciência: eu me esforço sempre, mas não com a competência necessária. Faz-me perguntas de toda ordem: escolha de nome e nacionalidade de personagens, qual vestimenta combina mais, apresenta-me três palavras para eu dizer a diferença entre elas, etc. Exige de mim variados exercícios de empatia, de orientá-lo quando faz alguma coisa errada nas redes sociais.
Às vezes fico indignado e tenho dificuldade de controlar minhas ações para não perder a linha com garotos imbecis que o perturbam, xingam, fazem Bullying, criam páginas fakes (falsas) dele, fazem posts depreciativos. Atormentam-no sem que ele tenha feito nada para provocá-los. O pior é que são covardes: quando eu os confronto ou falo com os seus pais, eles negam tudo.
Ele mora a uma distância de 200 metros de casa, com a mãe e tem apoio total dela para tudo (um amor incondicional, protetor),que faz o impossível por ele. Sávio recebe, também, muita atenção dos tios e primos maternos.
Tem uma vontade muito grande de “vencer” nessas atividades que executa e não aceita com naturalidade que parentes, principalmente os mais próximos, não se entendam bem e não gostem de ficar juntos. Pede a minha opinião para tudo: liga para mim mais de uma vez ao dia e me manda mensagens, e-mails, fazendo as consultas mais inusitadas. Sempre que acho necessário, dou uns “choques de realidade” nele, para que entenda as limitações que tem.
Entendo que o Sávio seja um belo exemplo para os portadores de necessidades especiais, pois batalhou, por iniciativa própria e estará lançando – na noite do dia 27-03-15, sexta feira, nas instalações da Livraria Logos, no Shopping Norte-Sul, em Vitória/ES – dois livros (revistas em quadrinhos), em decorrência de seu projeto ter sido selecionado pela Lei Rubem Braga (ele que acreditou no potencial da obra e inscreveu esses dois trabalhos), que incentiva a publicação de livros de autores capixabas ou aqui radicados. No mínimo, ele é uma lição de vida.Eu brinco dizendo que, dentre outras habilidades, ele é portador de uma incrível “cultura inútil”, pois sabe detalhes das bandeiras dos países, curiosidades da língua portuguesa, conhece dados biográficos não tão relevantes de personalidades, pesquisa sobre história, geografia em geral, muitas vezes trilhando o viés dos assuntos, ou seja, coisas que passam despercebidas para a maioria.
Entre os psicólogos, tem crescido o reconhecimento de que é possível analisar a personalidade humana em cinco dimensões, conhecidas como Big Five: abertura a novas experiências, extroversão, amabilidade, consciência (também traduzida como conscienciosidade, do inglês conscientiousness) e estabilidade emocional (em inglês, usualmente identificada na carga de instabilidade emocional, ou neuroticism). Os Big Five são resultado de uma análise das respostas de questionários sobre comportamentos representativos de todas as características de personalidade que um indivíduo pode ter. Quando aplicados a pessoas de diferentes culturas e em diferentes momentos do tempo, as respostas a esses questionários demonstraram ter a mesma estrutura, o que deu origem à hipótese de que os traços de personalidade dos seres humanos se agrupam efetivamente em torno de cinco grandes domínios.
O pioneirismo da teoria é atribuído a Gordon Allport e colegas que, em meados dos anos 30, buscaram nos dicionários todos os adjetivos que poderiam descrever atributos de personalidade (como por exemplo: “amável”, “agressivo” etc). Na década de 40, Raymond Catell reduziu a lista de adjetivos para 171 termos e depois os agrupou por afinidade em 35 conjuntos.
A partir dos anos 60, pesquisas de grande amostragem detectaram que cinco fatores principais resumiam a variação existente. Os autores que mais contribuíram ao modelo à época, considerados os “pais” da teoria, foram: Lewis Goldberg, Robert R. McCrae e Paul T. Costa, Jerry Wiggins e Oliver John.
Para ressaltar a importância do tema, John, que atua como professor de psicologia na Universidade da Califórnia em Berkley e é autor do The Big Five Personality Test, um dos mais robustos testes de avaliação dos traços de personalidade, analisa que pela primeira vez na história é possível entender o que acontece com os traços de personalidade. “Temos a chance de conectá-los às escolas, e as competências socioemocionais são atributos que não podemos subestimar”, afirma.
O professor de Berkley explica que a teoria dos Big Five tem sido comprovada por diversos pesquisadores independentes ao redor do mundo. “É incrível que estudiosos do Brasil também encontrem as mesmas respostas. Isso significa que as pessoas podem trabalhar juntas em busca do que funciona, ao invés de ficar dizendo que isso é meu ou seu. Eu não sou dono da teoria dos Big Five e você não precisa me pagar royalties (compensações). Ela (teoria) funciona como um código aberto”.
Domínios do Big Five
Grande parte das experiências desenvolvidas por pesquisadores utiliza escalas e testes para medir aspectos particulares da personalidade e enquadrá-los em ao menos um dos domínios dos Big Five. Abaixo, o esquema proposto por John e Srivastava (1999) e citado em Almlund et al (2011) para enquadrar os domínios capturados por escalas e testes nos cinco grandes grupos dos Big Five:
Abertura a novas experiências: tendência a ser aberto a novas experiências estéticas, culturais e intelectuais. O indivíduo aberto a novas experiências caracteriza-se como imaginativo, artístico, excitável, curioso, não convencional e com amplos interesses.
Consciência: inclinação a ser organizado, esforçado e responsável. O indivíduo consciente é caracterizado como eficiente, organizado, autônomo, disciplinado, não impulsivo e orientado para seus objetivos (batalhador).
Extroversão: orientação de interesses e energia em direção ao mundo externo e pessoas e coisas (ao invés do mundo interno da experiência subjetiva). O indivíduo extrovertido é caracterizado como amigável, sociável, autoconfiante, energético, aventureiro e entusiasmado.
Amabilidade: tendência a agir de modo cooperativo e não egoísta. O indivíduo amável ou cooperativo se caracteriza como tolerante, altruísta, modesto, simpático, não teimoso e objetivo (direto quando se dirige a alguém).
Estabilidade Emocional: previsibilidade e consistência de reações emocionais, sem mudanças bruscas de humor. Em sua carga inversa, o indivíduo emocionalmente instável é caracterizado como preocupado, irritadiço, introspectivo, impulsivo, e não-autoconfiante.
No infográfico abaixo, entenda a ligação entre grupos do Big Five e traços de personalidade. O desenvolvimento das competências socioemocionais pode ser benéfico tanto para um bom desempenho em matemática, como para ter sucesso nas artes e, por que não, felicidade (clique em cada elemento para ativar suas conexões).

IMPACTO
Aproximar o ambiente escolar do desenvolvimento de competências socioemocionais cria espaço para um aprendizado mais completo e tem impacto no bem-estar ao longo de toda a vida. Isso porque, segundo o pesquisador Oliver John, seres humanos são uma espécie muito sociável, como as formigas e as abelhas, e suas características podem, sim, ser aprimoradas antes e depois do período escolar.

É quase um lugar comum dizer que o mundo atual é complexo demais para caber no currículo das escolas, mas o importante, segundo o pesquisador belga Filip de Fruyt, é entender “por que algumas pessoas conseguem lidar melhor com essa complexidade do que outras”. Para dar conta dessa tarefa, as escolas do século 21 precisam descobrir como inspirar seus alunos enquanto eles aprendem. Com estudos orientados e projetos, é possível ajudar os alunos a conhecerem o que gostam de estudar, como preferem aprender, o que os faz desistir, em que costumam errar, quais emoções os dominam quando fracassam ou são provocados. Em especial, estimulá-los a descobrir quais são seus sonhos e de que forma persistir em alcançá-los.
Os resultados desta mudança de postura são sentidos na própria sala de aula, como mostram pesquisas promovidas pelo Instituto Ayrton Senna e pela OCDE. Alunos mais responsáveis, focados e organizados aprendem em um ano letivo cerca de um terço a mais de matemática do que os colegas que apresentam essas competências menos desenvolvidas. Em português, os efeitos são semelhantes, e alunos mais abertos e protagonistas têm seu aprendizado impulsionado em um terço.
Com este novo cenário, abre-se a possibilidade de melhorar os índices de desempenho tradicionalmente avaliados e, ao mesmo tempo, promover as novas aprendizagens. Além disso, surge uma importante ferramenta para reduzir as desigualdades dentro do sistema educativo e de elevar sua qualidade, diminuindo inclusive os níveis de evasão. Segundo o artigo A importância socioeconômica das características da personalidade, assinado pelo professor Daniel D. Santos, da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), o diferencial de um indivíduo com estas competências bem desenvolvidas também é sentido no mercado de trabalho e seu efeito é recompensado na forma de maiores salários e menor período de desemprego.
EDUCAÇÃO.DOC – COMPETÊNCIAS DA NOVA ESCOLA
http://www.contioutra.com/como-e-o-mundo-meu-terceiro-filho-savio-portador-da-sindrome-de-asperger/