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A Nova Fronteira da Criação Colaborativa
- 13/10/2015
- Category: Notícias
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Tradicionalmente, a criação de conteúdo para a educação e sua posterior aplicação foram feitas em etapas bem distintas da cadeia de valor, separando claramente os papéis de autor e instrutor do conteúdo lecionado. Mesmo que em diversas oportunidades a função de autor tenha sido desempenhada por um professor, isso não despertava nos profissionais de ensino a percepção ampla de que eles tinham uma função primordial na criação do material utilizado nos cursos. No entanto, o que podemos observar é que a prática torna os professores tão importantes na autoria quanto os profissionais dedicados diretamente a essa função. Além de alguns atuarem especificamente como autores, criando livros, apresentações e vídeos, entre outros formatos, os professores também costumam desenvolver as estruturas de aula, selecionando e adaptando materiais disponíveis na bibliografia do curso, vindos de fontes externas, ou até mesmo editando suas próprias criações. De acordo com pesquisa TIC Educação de 2013, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 96% dos professores entrevistados utilizam recursos online no processo educacional, sendo que 88% deles efetuam adaptações nestes recursos. Tal constatação denota de maneira incontestável que a quase totalidade dos professores são autores (ou ao menos editores) dos materiais que utilizam em sala. Apesar disso, a mesma pesquisa demonstra que pouco dessa criação ou edição é compartilhado, com apenas 21% dos entrevistados tendo publicado seus materiais. A atuação do professor na criação do material (exceto quando contratado especificamente para tal finalidade) não é percebida na visão tradicional de mercado, de modo que a relevância dos conteúdos desenvolvidos na preparação de aulas não é devidamente considerada, nem mesmo pelos próprios professores. Segundo Jamila Venturini, em debate realizado em dezembro passado, na ocasião do lançamento do estudo “Recursos Educacionais Abertos no Brasil: o campo, os recursos e sua apropriação em sala de aula” realizado sob sua coordenadoria, “talvez a gente tenha um sistema que não necessariamente valoriza o professor nesse papel de criação de conteúdo, de intelectual”. Como consequência, não se percebe também oportunidade ou mesmo necessidade de compartilhar, nem ao menos é promovido incentivo significativo para que isso ocorra. Alterando essa visão redutora do papel do professor na criação de conteúdo, o conceito de Recursos Educacionais Abertos (REA) vem se tornando cada vez mais uma alternativa para a contribuição de toda essa classe profissional na estruturação e distribuição de elementos básicos de conhecimento, que combinados podem ser os blocos construtores de módulos de ensino, cursos e programas pedagógicos completos. Por definição, os REA são “materiais de ensino, aprendizado e pesquisa em qualquer suporte ou mídia que estão sob domínio público ou são licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam acessados, utilizados, adaptados e redistribuídos por terceiros”1. Diversas comunidades como a REA Brasil e a OpenStax se organizam por todo o mundo para desenvolver, hospedar, distribuir e, acima de tudo, incentivar a participação dos envolvidos no processo educacional no sentido de colaborar com esse ambiente criativo. Iniciativas como essa são de grande importância para quebrar as barreiras relativas à percepção do professor como participante ativo desse processo. Contudo, um dos entraves que fazem esse modelo ainda caminhar de maneira relativamente lenta pode justamente ser a profusão de ferramentas e grupos de REA. A falta de um ambiente que concentre, organize e disponibilize essas diversas iniciativas em uma única interface prejudica o atingimento de uma massa crítica de usuários, o que poderia promover um ciclo virtuoso de colaboração e reconhecimento, permitindo que o senso de reciprocidade presente em todas as redes sociais na internet funcionasse como grande impulsor dessa roda. Por fim, mas não menos importante, há que se considerar os aspectos de propriedade dos conteúdos distribuídos e reaproveitados. Sem que haja uma adoção pelo proprietário do conteúdo ao espírito comunitário desse novo modelo, permanece a incerteza sobre a disponibilidade e o direito de uso desses materiais. Para solucionar essa questão, os repositórios REA adotam em geral as definições do Creative Commons, em especial CC-BY (atribuição ao autor) e CC-BY-SA (atribuição ao autor e sem alteração de licença), de modo que sejam permitidos a derivação do conteúdo e até mesmo seu uso em cenários comerciais. A permissão de uso comercial é crucial em diversos casos, inclusive na hipótese de incorporação pela cadeia tradicional dos conteúdos produzidos colaborativamente. Essa união dos métodos tradicional e colaborativo em um modelo comercial seria inclusive um possível caminho de duas mãos, com editoras agregando a seus produtos módulos criados de maneira colaborativa, mas também disponibilizando partes de suas propriedades para serem utilizadas em REA. Naturalmente, em caso de uso comercial é importante encontrar uma forma de se remunerar a contribuição feita por cada participante, o que só reforça a necessidade de haver plataformas online que centralizem e controlem o uso desses recursos. Assim como em outros setores que vivenciaram o impacto da economia colaborativa, o advento de um serviço desse tipo para os mercados editorial e de educação é uma tendência inevitável e apenas questão de tempo para que sua adoção se torne indispensável.
http://www.contec-brasil.com/pt/newsletter/02586/
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