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“Cultura da nota” desvaloriza processos de aprendizagem
- 22/06/2015
- Category: Notícias
O presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), David Justino, defende que a avaliação com base nas notas dos exames tem “um efeito de influência” na avaliação dos alunos ao longo do ano, que “é necessário evitar”.
Numa conferência de imprensa para apresentar a recomendação do CNE ao Governo, relativa à retenção de alunos no ensino básico e secundário, David Justino defendeu que “é preciso evitar que a avaliação interna seja um processo de sucessão de notas de exames e testes”, sublinhando que “há outras formas de avaliar” e que a avaliação interna “deve ser preferencialmente formativa”, e sem “sacrificar uma avaliação à outra”, uma vez que devem funcionar numa lógica de complementaridade.
Na recomendação aprovada por unanimidade pelo CNE, este órgão refere-se a uma “cultura da nota”, que desvaloriza os “processos que promovem as aprendizagens”, dando como exemplo uma prática que gostaria de ver revista: “a afixação pública e obrigatória das pautas com ‘notas’ individuais e nominais, decorrentes da avaliação interna, sob o pretexto da transparência, mas com questionáveis efeitos na perceção dos resultados por parte dos alunos e das famílias”.
“De notar que este procedimento, ao invés de ser revisto, está a estender-se aos primeiros anos de escolaridade, onde a avaliação tinha um caráter individual e descritivo”, acrescenta o texto do CNE.
David Justino defendeu ainda que as elevadas taxas de retenção de alunos em Portugal estão a prejudicar os resultados do país em testes internacionais como o PISA, da OCDE: “Outros países com resultados semelhantes aos nossos têm taxas de retenção mais baixas”.
Para o também ex-ministro da Educação, a acumulação de repetências de ano “é potenciadora da degradação do ambiente escolar”, refletindo-se na indisciplina e no abandono precoce, considerando a meta europeia de ter 10 por cento de abandono escolar em 2020 “um objetivo difícil de atingir”.
David Justino questionou ainda os benefícios de obrigar um aluno que repete um ano por ter chumbado a algumas disciplinas a frequentar todas as disciplinas novamente.
O presidente do CNE recusou ainda estabelecer qualquer “relação direta” entre os exames de final de ciclo e as taxas de retenção, até porque, se no 6.º ano de escolaridade os exames recentemente instituídos podem ajudar a explicar as elevadas taxas de retenção, o mesmo já não se aplica para o 8.º ano, um daqueles em que os ‘chumbos’ aumentaram “de forma significativa”.
O relatório técnico que serviu de suporte aos conselheiros cita dados do PISA 2009 (programa internacional de avaliação de alunos), segundo os quais a prática da retenção é “especialmente significativa” em Portugal, na Bélgica, em França, no Luxemburgo e em Espanha, “países em que mais de 35 por cento de estudantes, com 15 anos de idade, repetiram um ou mais anos (contra uma média OCDE de 13 por cento).
Num relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) de 2013 são recuperados dados do PISA 2012 para constituir grandes grupos de países europeus com comportamentos idênticos no que respeita à retenção (alunos de 15 anos que reportam terem no percurso pelo menos uma retenção).
Destacam-se Espanha, Luxemburgo e Portugal (todos com taxas superiores a 30%), França e Holanda – (com taxas próximas dos 30 por cento), Alemanha e Suíça (com taxas próximas dos 20 por cento), Croácia, Lituânia, Reino Unido e Islândia (com taxas inferiores a três por cento) e a Noruega
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