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O esporte como ponte para a educação dos jovens
- 23/02/2015
- Category: Notícias
Por Ivani Cardoso
Esporte e leitura caminham juntos? Pelas experiências de sucesso realizadas na Alemanha e no Brasil a resposta é sim. A Campanha da Feira do Livro de Frankfurt pela Alfabetização é uma organização sem fins lucrativos que defende a igualdade e a integração educacional. Ela foi lançada em 2006 pela Feira do Livro de Frankfurt com a parceria do Unesco Institute for Lifelong Learning e da Bundesverband Alphabetisierung und Grundbildung e.V. (mais conhecida nos meios esportivos e televisivos do Brasil como Bundesliga – o campeonato de futebol alemão). O objetivo da fundação é transmitir a importância da educação básica para um público mais amplo e executar seus próprios projetos, como “Football meets Culture” (Futebol se encontra com a Cultura), que procurar apoiar o desenvolvimento das habilidades sociais e de linguagem dos seus participantes, abrindo melhores competências para suas vidas, além de ter criado o prêmio para o melhor livro infantil sobre futebol. No Brasil, a Fundação Gol de Letra, fundada em 1998, é uma organização não governamental que utiliza o Esporte e a Educação como ferramentas para promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens de comunidades, incentivando ainda o fortalecimento familiar e o desenvolvimento comunitário. Para explicar o trabalho da Fundação entrevistamos nesta edição Sóstenes Brasileiro de Oliveira, diretor-geral da entidade. Segundo ele, este ano a Fundação também se prepara para representar e difundir o investimento no Esporte como ferramenta de transformação e desenvolvimento social, durante as Olimpíadas 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. A visibilidade do País e da cidade durante esse evento mundial darão à Gol de Letra a oportunidade de demonstrar e comprovar os benefícios que o esporte vinculado à educação podem trazer ao Brasil. Em 2013, a Fundação Gol de Letra foi a grande vencedora do Prêmio Itaú-Unicef de melhor programa de Educação Integral do Brasil, o maior reconhecimento da área.
Quando começou e quais os objetivos da FGL?
A Fundação Gol de Letra foi criada no Dia dos Direitos Humanos em 1998, dia 10 de dezembro, pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo, e é uma organização não governamental que utiliza o Esporte e a Educação como ferramentas para promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens de comunidades, incentivando ainda o fortalecimento familiar e o desenvolvimento comunitário. Reconhecida em 2001 pela Unesco como instituição modelo, atualmente a Fundação Gol de Letra atua com atendimento direto e com a sistematização e disseminação de suas práticas a outras comunidades, em parceria com empresas e organizações locais. No ano de 2014 a Fundação Gol de Letra completou 15 anos de atividades. Atua em São Paulo, na Vila Albertina, e no Rio de Janeiro, no Cajú (região portuária) e na Barreira do Vasco (zona norte).
Quantos parceiros possui em suas ações? Quais os principais?
Em 2014 os principais parceiros da Fundação Gol de Letra foram: FUMCAD, Ministério do Esporte, CMDCA, Prefeitura do Estado de São Paulo, Rede Esporte pela Mudança Social, Petrobras, Governo Federal, Lacoste, Adidas, Banco do Brasil, Mapfre Seguros, Laureus, Comic Relief, SporTV, Itaú e Johnson&Johnson. Esses parceiros realizam doações financeiras diretamente ou via leis de incentivo; patrocínio de programas e projetos; doações de produtos ou serviços, contribuindo para as atividades administrativas; oferta de infraestrutura, produtos, serviços ou parcerias que contribuem com o atendimento direto ao público beneficiado; e campanhas de mobilização com colaboradores, fornecedores e/ou clientes para arrecadação de recursos destinados à Fundação. Na entidade atuam aproximadamente 120 colaboradores em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Quais os principais resultados do trabalho realizado até agora?
Atualmente 1.300 crianças, adolescentes e jovens de 7 a 30 anos são beneficiados pela instituição de forma direta nas suas unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro. Desde a sua criação já foram atendidas mais de 6 mil crianças, jovens e adolescentes. Em 2009 a Fundação desenvolveu, com o Centro Paula Souza e em parceria com o governo do Estado de São Paulo, o Curso de Técnico em Gestão Esportiva, pioneiro no Brasil, o que posiciona a instituição como influenciadora de políticas públicas no País.
Como surgiu a ideia de fundar a FGL?
A ideia surgiu dos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo. A Fundação representou a concretização de um sonho dos dois atletas: a possibilidade de contribuir com a educação de crianças, adolescentes e jovens de comunidades socialmente vulneráveis, para que eles tivessem mais oportunidades e perspectivas de vida.
Quais os principais benefícios do esporte ligados à educação?
A Fundação Gol de Letra atua desde seu início com a educação Integral. O Esporte relacionado à educação é utilizado como estratégia de articulação e transformação social, contribuindo para a formação e o desenvolvimento das crianças, adolescentes e jovens, bem como das comunidades onde a Gol de Letra está inserida, para que possam atuar com autonomia na mudança de suas próprias realidades.
A FGL faz algum tipo de pesquisa?
Não, mas possui publicações sobre esporte e educação integral, entre elas: Experiências com Esporte – Educação Física (2014)
Relatório Avaliativo Ginga Social; Programa Virando o Jogo: uma experiência da Gol de Letra em Educação; Gol de Letra: 10 anos de uma História Real; Gol de Letrinhas, publicação anual elaborada com a participação de crianças do Programa Dois Toques, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro; Um olhar sobre a Vila: publicação produzida em 2001, diagramada e ilustrada pelos jovens da Fundação em São Paulo, no então projeto “A Cara da Vila”.
Como é realizado o trabalho?
A Fundação Gol de Letra atua em duas áreas. No atendimento direto está presente em três microterritórios: Vila Albertina, zona norte de São Paulo e, no Rio de Janeiro, em dois locais, no complexo do Caju (região portuária) e na Barreira do Vasco, em São Cristovão, na zona norte da cidade. Em São Paulo, são desenvolvidos os programas Jogo Aberto, Virando o Jogo e o Programa de Jovens. No Rio de Janeiro, a Fundação realiza o Jogo Aberto Caju, Dois Toques e o Gol de Trabalho. Além disso, o programa Comunidades é transversal a todos esses e está presente nas duas unidades. Seu foco está no atendimento familiar e comunitário, com objetivo de desenvolver contextos de proteção social, na família, na comunidade e nos diversos espaços de convivência das crianças, jovens e famílias atendidas. Na disseminação a Gol de Letra desenvolve e dissemina práticas que contribuem para a transformação social compartilhando sua tecnologia social com organizações locais presentes em outros territórios. A disseminação ocorre por meio da capacitação de profissionais e implementação, monitoramento e avaliação de novos projetos, sempre em parceria com empresas financiadoras e organizações locais, multiplicando o conhecimento adquirido ao longo de sua existência.
Quais são as principais práticas utilizadas?
Todas as atividades da Fundação Gol de Letra são pautadas por três princípios educacionais: Aprender: ampliação do repertório esportivo, educacional e cultural; Conviver: desenvolvimento de valores e habilidades sociais; Multiplicar: formação de multiplicadores de conhecimentos e atitudes.
Como funciona o programa Jogo Aberto?
O Jogo Aberto é um programa com foco no Esporte e integrado às práticas educacionais e de assistência social. Com o objetivo de formar uma cultura esportiva entre os participantes e expandi-la na comunidade da Vila Albertina (SP), ele se organiza em projetos que atuam de forma complementar: Núcleo de Esporte e Desenvolvimento, Escola Ação Esportiva, Formação de Monitores e Lazer. O Jogo Aberto Caju e Barreira do Vasco, no Rio de Janeiro, tem como foco a aprendizagem das seguintes modalidades olímpicas: Natação, Ginástica Rítmica Desportiva, Futsal, Voleibol, Basquete, Tênis e Judô. Com base nos princípios do Esporte Educacional, as atividades são destinadas a crianças e adolescentes de 8 a 17 anos nas duas comunidades. Também são realizados torneios esportivos internos e ações comunitárias (caminhadas e festivais). O objetivo é promover novas aprendizagens a partir do esporte, tanto no campo conceitual, quanto físico e social, além de provocar o desenvolvimento de habilidades esportivas.
E o programa Virando o Jogo?
O programa Virando o Jogo, realizado na unidade de São Paulo, é uma proposta de Educação Integral baseada na dupla proteção de direitos (educação e assistência social), na qual o foco não é só a criança e o adolescente, mas também família, escola e comunidade. São realizadas atividades de Capoeira, Dança, Educação Física, Leitura e Escrita, Artes Plásticas, Música, Recreação e Brinquedoteca, para crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos. Todas essas linguagens são utilizadas com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento de aspectos motores, afetivos, cognitivos e sociais dos participantes. O programa conta ainda com a formação de jovens monitores, de 15 a 18 anos, que acompanham e participam ativamente da execução das atividades e se tornam multiplicadores de conhecimento.
Que outros programas têm mais alcance?
O Programa de Jovens, realizado em São Paulo, investe no desenvolvimento cultural e educacional dos jovens da Vila Albertina, para que eles possam realizar seus projetos de vida e experimentar uma inserção autônoma na vida social. Desde 2001, o programa Dois Toques, no Rio de Janeiro, usa o Esporte como ferramenta educacional, combinando práticas esportivas e atividades de expressão oral e escrita. Desde 2006 essas ações também são voltadas às famílias e à comunidade do bairro do Caju. As aulas são nas áreas de Educação Física e Esporte, Leitura, Escrita, Literatura e Informática, sempre no contraturno escolar. O programa atende crianças, adolescentes e famílias, além da formação com os jovens monitores. O Gol de Trabalho é realizado no Rio de Janeiro, com o objetivo de capacitar jovens e adultos para o desenvolvimento de habilidades pessoais e profissionais e ajudá-los na inserção no mercado de trabalho. O programa oferece qualificação técnica em rotinas administrativas, formação básica em Língua Portuguesa, Matemática, Informática, Cidadania, Cultura e Política e workshops mensais nos quais são discutidos temas relativos ao mercado de trabalho. Para facilitar a inserção dos participantes no mercado, a fundação mantém parcerias com instituições e empresas de diversos setores (farmacêutico, bancário, transportes e hotelaria, entre outros).
E para as comunidades, qual é a ação?
Em ambas as unidades também é desenvolvido o programa Comunidades, que foca suas ações no atendimento familiar e comunitário, da seguinte forma: Formação de Agentes Sociais, cujo objetivo é identificar e capacitar atores locais para esse processo de desenvolvimento comunitário, com foco na multiplicação de informações, conhecimentos e práticas; Biblioteca para a Comunidade: é aberta a toda a comunidade das áreas beneficiadas pela Gol de Letra e tem o objetivo de promover o acesso ao livro e à leitura para incentivar o protagonismo dos moradores nas duas comunidades.
As atividades da FGL já renderam frutos?
Desde 2009 a Gol de Letra também desenvolve e dissemina práticas e metodologias que contribuem para a transformação social. Através da área de Disseminação, ela transfere sua tecnologia social para outros territórios por meio da capacitação de profissionais e implementação, monitoramento e avaliação de novos projetos, sempre em parceria com empresas financiadoras e organizações locais, multiplicando o conhecimento adquirido ao longo de sua existência. Atualmente essas iniciativas estão presentes em seis estados brasileiros e no exterior (Guiné-Bissau), beneficiando milhares de crianças, adolescentes e jovens. Há um trabalho parecido com o nosso que é o Sport Dans La Ville, supervisionado por uma organização francesa.
Como é a participação das comunidades no trabalho?
A ferramenta base de transformação da Fundação Gol de Letra é a educação integral, buscando desenvolver de forma espontânea as mais diferentes expressões das crianças, adolescentes e jovens da comunidade. As famílias e comunidades fazem parte da proposta de integração do aprendizado, já que são pontos chave para a sociabilidade dos atendidos. A família é a centralidade enquanto estrutura vital das crianças e adolescentes, portanto, o fortalecimento dos laços familiares, independente de suas características – qualquer tipo de afeto -, é fundamental para a humanização da criança e do jovem. Para que pratiquem o respeito e exerçam seu papel de cidadão, interagindo com diferentes espaços de vida social, é importante também que o trabalho com as famílias esteja integrado a uma atuação na própria comunidade. Ações como esta fomentam as articulações comunitárias e oportunizam experiências diversas de sociabilidade.
Quais são os projetos para este ano, além das Olimpíadas?
Para 2015 a Fundação Gol de Letra manterá e ampliará seus programas e projetos, passando a atender 1.650 crianças, adolescentes e jovens. No Rio de Janeiro, além do Bairro do Caju, passamos a atuar com um novo programa na comunidade da Barreira do Vasco. Em São Paulo, serão reforçadas as atividades em parceria com as escolas públicas da região da Vila Albertina, através dos programas Jogo Aberto, Programa de Jovens e Comunidades. Além disso, será ampliada a oferta de lazer e atividades físicas para a comunidade, como forma de fortalecer a cultura esportiva no bairro e favorecer a mobilização, a articulação e o desenvolvimento comunitário.
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